quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Afinidade


Afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e ao depois. A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais subtil, delicado e penetrante dos sentimentos. É o mais independente também. Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afecto no exacto ponto em que foi interrompido. Ter afinidade é muito raro. Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. Afinidade é ficar longe pensando de forma parecida a respeito dos mesmos factos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavras. É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento. Não é sentir nem sentir contra... Nem sentir para... Nem sentir por.... Nem sentir pelo. Afinidade é sentir com. Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar, ou, quando falar, jamais explicar: apenas afirmar. Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças. É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas quanto das impossibilidades vividas. Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação. Porque tempo e separação nunca existiram. Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida.

ANDRÉ LUIZ CHAVES

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