A dieta do ADN

Descubra as promessas do inovador regime do ultrametabolismo, que alia a herança genética à alimentação
E se pudesse pedir ao nutricionista que lhe prescrevesse uma dieta geneticamente personalizada, capaz de prevenir o excesso de peso? Este é um cenário que lhe pode parecer saído dos filmes de ficção científica, mas são já vários os especialistas que começam a trabalhar neste sentido.
A ideia-base assenta no uso dos alimentos como antídotos que permitem que o organismo se antecipe à doença. Trata-se de analisar as características específicas do ADN e tentar perceber se tem propensão para determinado tipo de doenças.
A partir daí, a pessoa passaria a comer apenas alimentos com os quais os seus genes se dessem bem e que a ajudassem a prevenir determinadas patologias, como a obesidade. Na verdade, este é o domínio da nutrigenómica, uma área da ciência que estuda a interacção entre a nutrição e os genes.
E foi a partir dela que Mark Hyman, especialista em medicina alternativa, criou uma das mais recentes e famosas dietas norte-americanas. Ultrametabolism, The Simple Plan for Automatic Weight Loss é o livro que defende as vantagens da dieta baseada na nutrigenómica. Veja em que consiste...

Dieta em três actos

Na opinião de Mark Hyman, «as mesmas coisas que nos tornam doentes, também nos tornam gordos». O especialista em medicina alternativa aponta exemplos de alimentos tóxicos como «produtos processados, junk food, açúcar ou substâncias como a cafeína e o álcool».
O seu livro propõe uma dieta dividida em três fases, a primeira das quais «dura uma semana, é uma espécie de preparação do corpo e tem como objectivo abandonar todos os maus hábitos, para equilibrar o metabolismo e recomeçar do zero», descreve.
Na prática, isto significa pôr de parte massas, açúcares e junk food, assim como o álcool, cafeína e gorduras modificadas, presentes em alimentos industrializados.

A segunda fase envolve a desintoxicação do organismo. Pode durar até três semanas e implica o abandono de tudo o que favorece alergias. Deve evitar-se comida com glúten, ovos, leite e todos os seus derivados, que são substituídos por alimentos «que fazem com que os genes trabalhem de forma correcta», refere o autor da dieta.
Pode ingerir-se, «sempre que se queira», sublinha Mark Hyman, fruta, legumes e todo o tipo de verduras (preferencialmente frescas e cruas), para além de cereais integrais. Por esta altura, «já terá perdido entre dois a cinco quilos», garante.

Para toda a vida

É aqui que começa a terceira fase, que deverá durar «o resto da vida» e na qual se pode perder cerca de meio quilo por semana até «se alcançar o peso ideal».
A partir daí basta fazer a manutenção, continuando a consumir os alimentos que se foi ingerindo ao longo da segunda fase e regressando, de forma progressiva, aos alimentos que favorecem as alergias.
Apesar de defender que basta seguir a dieta prescrita no livro, «para se perderem alguns quilos extra e depressa», Mark Hyman sugere que se reflicta, até mesmo por meio de testes, «quais seriam os factores para a obesidade mais próximos de cada caso».

Nutrigenómica à lupa

Partindo dos pressupostos que estão na base da dieta que Mark Hyman propõe, pedimos um comentário a Purificação Tavares, especialista em Genética Médica, e a Catarina Saraiva, endocrinologista.
Segundo Purificação Tavares, a obesidade é uma «patologia complexa que se manifesta pela interacção de vários genes», sendo que «existem genes que nos dão informação sobre a nossa capacidade de mobilizar as gorduras» e também sobre «a capacidade e rapidez do nosso metabolismo».

Contudo, «ainda não é possível traçar um perfil genético do indivíduo, no sentido de lhe dar uma dieta personalizada». Por outro lado, sendo «a obesidade uma doença complexa e dependente de vários factores, a identificação dos genes envolvidos poderá ser útil, mas não a garantia de que o tratamento é possível».
Já Catarina Saraiva refere que «os nossos genes influenciam» a aquisição de peso, não sendo «por acaso que há quem coma gorduras e açúcares e nunca engorde».
No entanto, mexer na herança genética para tratar ou prevenir doenças, como o cancro, «é quase impossível hoje em dia», pelo que os problemas relacionados com a obesidade «ainda terão de esperar».

TEORIA ULTRAMETABÓLICA

Os factores que podem estar por detrás do excesso de peso, segundo Mark Hyman:
Descontrole do apetite.
Danos causados pela acção dos radicais livres que podem provocar fadiga, ansiedade e baixa resistência imunológica.
Inflamações crónicas que afectam o metabolismo.
Disfunção da tiróide que pode tornar o metabolismo mais lento e ocasionar a retenção de líquidos.
Excesso de stress que ajuda a libertar substâncias capazes de estimular a produção de gordura.
Sedentarismo.
Fígado intoxicado.