
De uma grande inteligência e apurado conhecimento homeopático, a velhinha sabia fazer diversos tipos de medicamentos e garantia que conseguia curar muita coisa! Certa vez, ela saiu a procura das ervas medicinais e encontrou algumas de cheiro diferente em abundância numa serra mineira. Levou-as, interessada por descobrir que efeito especial elas causariam. "Algo especial devia ser" pensava, por possuírem tal cheiro singular. Misturou-as com água e aqueceu para fazer um chá. Retirou do fogo e sem receio, bebeu ainda quente. Lembro-me das suas palavras "bebi quente pois estava com a garganta dorida, e chá quente ajuda a aliviar a dor. Minha filha, é uma delícia esse chá!". E nesse instante, de súbito a reacção ocorreu e a velhinha transformou-se por completo! Começou a ver a vida com outros olhos, as flores estavam mais floridas, as cores estavam mais coloridas, e os cheiros estavam mais fortes. Foi aí que ela desvendou todos os segredos do mundo.
Sem falar nada com ninguém, pegou numa grande cesta e voltou à serra de onde colheu as ervas e colheu mais um punhado. Levou-as, plantou-as nos fundos da sua casinha,e criou mais uma grande diversidade de combinações dessas ervas com outros componentes. Moeu-as com grãos de café e fez um café delicioso no dia seguinte para os filhos e netos, que experimentaram e tiveram a mesma nova percepção do mundo que teve a senhora.

Ela então, entendeu a sua missão na Terra. Comprou o terreno baldio ao lado da sua casa e plantou mais ervas. Começou a colher e fazer chá, moer com o café, com o milho... e montou um pequeno estabelecimento onde servia diversas combinações de cafés, ervas, chocolates, chás, bolos, doces etc. Todos os que bebiam ou comiam do que a velhinha servia, sentiam a mesma metamorfose que ela.
A velha senhora, um dia, ficou assustada. Teria criado uma nova droga? Será que as pessoas se viciariam nela? Será que o poder alucinógeno desta geraria problemas psíquicos e de saúde nos usuários? Ela acalmou-se então, pois percebeu que já estava a beber do chá das suas ervas há muitos e muitos anos e nada havia acontecido com ela. "Só estava mais, mais, mais..."! Nem haviam palavras que descrevessem o que sentia!
De qualquer forma, as ervas não podiam simplesmente chamarem-se "ervas", precisava dar-lhes um nome. Escolheu o nome "ilusão". Ninguém sabia o que era a ilusão antes da velha senhora. E aquela dose homeopática diária de ilusão que a senhora distribuía e vendia a quem quisesse trazia conforto a muitas pessoas.
Um dia, um cientista famoso, curioso por estudar os efeitos da tal ilusão após ouvir milhões de comentários sobre estes, resolveu ir à casa daquela Sra para experimentar, que o acolheu gentilmente. Ele experimentou e sentiu-se tão alegre e tão de bem consigo, que parecia flutuar sobre tudo. Realmente sentiu-se imerso numa mistura de sensações maravilhosas, exactamente como lhe tinham descrito as pessoas que experimentaram. Assim, chamou a essas sensações de "Felicidade". O cientista escreveu muitos livros sobre a dose de ilusão e sobre a felicidade, e este conceito espalhou-se por todas as partes do planeta.
Muitas pessoas ficaram sabendo da velhinha por meio da grande fama da felicidade no mundo inteiro. Então, ela aumentou a produção da ilusão, e saiu distribuindo para todos em todo o mundo, enchendo o mundo de ilusão e, consequentemente, de felicidade. Seria então a tal da felicidade uma ilusão ou a tal de ilusão uma felicidade? Difícil dizer.
Ela então, criou o Pai Natal, o Coelhinho da Páscoa, a fábula, a fantasia, a ficção, o amor, a paz, a riqueza... e tantas outras coisas que nem sei dizer quantas.
Só sei que depois de uma tarde muito prazerosa de boas conversas com a saudosa velhinha, esta me ofereceu chá de ilusão. Experimentei. E entendi tudo! Desde então, tomo uma dose de ilusão todos os dias.
Moral da história: mesmo que a felicidade venha a ser uma ilusão, queremos essa ilusão todos os dias, ela nos conforta. Ter a ilusão de que seremos felizes nos faz querer mais e mais nossos objectivos alcançar, e de tanto tentar, conseguimos! Acho ser utópico alcançar a felicidade em sua plenitude, mas é de pequenas conquistas e pequenos avanços, que construimos o que seria uma parte dela, mesmo que pequena, momentânea e efêmera. Por isso, tomamos uma dose de ilusão todos os dias, e essa busca incessante pela felicidade durará dia após dia, dose após dose.
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