Nos últimos dez anos a incidência da Síndrome do Pânico aumentou, tornando-se frequente nos consultórios dos especialistas
Suor, tremores, coração a bater forte, falta de ar, tonturas, desmaio. Você ou alguém ao seu lado, de repente, pode sentir uma estranha sensação de ansiedade, calafrios ou ondas de calor, impressão de perder o controle. Tudo isto, sem o menor motivo aparente ou, pelo menos, sem estímulo compatível com a intensidade da crise. A pessoa que convive com estas experiências desagradáveis e intensas sem saber o que as desencadeou, podem estar com Síndrome do Pânico, também conhecida como Transtorno do Pânico (T.P.).
Definição
O nome “pânico”, adaptado do grego panikon, deriva do Deus Pã, que tinha chifres e pés de bode. Rejeitado por sua feiúra, Pã era a divindade que causava terror entre camponeses e pastores com sua aparição inesperada. Daí a palavra “pânico” denotar medo violento e repentino.
A psiquiatra e especialista em distúrbios de ansiedade, Zenaide Regueira, confirma que T.P. é um distúrbio emocional: “A Síndrome do Pânico é um transtorno de ansiedade em acometimentos do estado emocional. Eu diria, ainda, que é um descomando do corpo e da mente. Sensação desproporcional de medo sem nenhum referencial lógico”.
Características
As características da Síndrome do Pânico são crises de ansiedade agudas. Assinalam-se pela inesperada e frequente sensação de terror e inquietação seguida de sinais somáticos, como falta de ar e palpitações. Sinais semelhantes aos que ocorrem quando a pessoa faz um grande esforço físico ou quando corre perigo de vida.
Com a primeira crise, aparece um novo sintoma: o medo de sentir medo. A sensação faz com que a pessoa saia rápido do lugar onde se encontra (agorafobia) e evite voltar a lugares onde aconteceu a primeira experiência. Até então, tudo se enquadra numa resposta normal, pois é apenas mecanismo de defesa, alerta para um possível perigo. Mas, quando essa sensação de medo persiste, segundo os médicos, o quadro caracteriza-se como Síndrome do Pânico. As crises ocorrem sem nenhum motivo desencadeador e com frequência de uma vez por semana, em média.
A pessoa com o distúrbio desenvolve fobias de dirigir, fazer compras em lojas lotadas ou de entrar em elevador, por exemplo. O portador da Síndrome desenvolve o medo de ficar sozinho em lugares públicos. Isto se torna um tormento. “As alterações mexem tanto com a personalidade que deixam as pessoas incapacitadas de acções normais, porque aparecem sintomas somáticos e perda de raciocínio”, esclarece Zenaide Regueira.
A ansiedade e o medo podem chegar em níveis tão elevados que o indivíduo com T.P. torna-se incapaz de sair de casa. Os sintomas podem desaparecer após algumas crises, mas a pessoa continua com medos que sabe serem ilógicos, como viajar, ir ao cinema , dormir e até alimentar-se. A partir da primeira crise, o medo de vir a ter outra, acelera o processo.
O economista A. L., 25 anos, teve o Transtorno aos 14 anos. Depois de fazer um ano de terapia, curou-se e, hoje, lembra como a experiência foi desagradável: “Comecei a ter problemas para dormir e sempre acordava assustado. Passei a ter medo de dormir e, quando conseguia, só às cinco horas da manhã. Não conseguia viajar, sentia angústia no carro , ficava com falta de ar. Achava que meu coração pararia e iria morrer. Quando chegava a noite, começava a tremer. Tinha medo de sentir tudo o que senti na noite anterior. Não sei o que desencadeou isso. Sempre fui uma pessoa sociável, fazia natação, futebol, tudo. Eu realmente, não sei”, recorda.
Mecanismo bioquímico
Os neurotransmissores, substâncias produzidas no cérebro, são responsáveis pela comunicação que ocorre entre os neurónios (células do sistema nervoso). A comunicação emite mensagens que determinam a execução de actividades físicas e mentais do corpo humano como andar, memorizar, falar, etc. Se a produção desses neurotransmissores estiver em desequilíbrio, o cérebro transmite informações e comandos incorrectos. É o que acontece numa crise de pânico.
A informação defeituosa alerta o organismo para o perigo que, na verdade, não existe. No Transtorno do Pânico, os neurotransmissores que se desequilibram são a serotonina e a noradrenalina.
Estatísticas
Indivíduos que sofrem deste mal, passam por diversos médicos e, muitas, nada é diagnosticado. Isso aumenta a insegurança e impressão de que não existe tratamento para a patologia, o que provoca estafa, nervosismo, stress e fraqueza emocional.
A incidência do quadro clínico aumentou nos últimos dez anos. A razão ainda é desconhecida, embora alguns especialistas achem que se associa ao aumento do stress patológico nos dias actuais. Acontecimentos desagradáveis contribuem de forma significativa para o desencadeamento do T.P., tais como problemas profissionais, morte, desemprego, etc.
Algumas pessoas são mais predispostas ao problema que outras. Em algumas famílias, o Transtorno do Pânico ocorre com mais frequência e se considera a hipótese da participação do factor hereditário. Muitos dos que sofrem com o mal não possuem antecedentes familiares.
A Síndrome do Pânico ocorre duas vezes mais em mulheres que em homens, a maioria entre 18 e 40 anos, com personalidades parecidas. São pessoas produtivas no trabalho e que carregam excessos de afazeres. Indivíduos que não aceitam errar, nem concordam com imprevistos, além de serem bastante exigentes consigo mesmos. Criatividade e perfeccionismo estão incluídos como perfil de personalidade em comum. No ponto negativo, são orgulhosos e irritam -se facilmente. Tudo isso facilita a predisposição para situações de stress agudo. Aumenta-se a actividade de algumas regiões do cérebro, provoca desequilíbrio bioquímico e desencadeia a Síndrome do Pânico.
Alguns medicamentos, usados em dietas (anfetaminas) ou drogas (cocaína, maconha, crack, êxtase) podem aumentar a actividade do cérebro e, consequentemente, o medo.
As crises de pânico não tratadas, tornam-se fobias que limitam a liberdade, fazem a pessoa enclausurar-se durante anos, muda toda a rotina
familiar. O distúrbio tem grande impacto no quotidiano, e é fundamental um tratamento eficaz.
Tratamento
Existe um grande número de tratamentos para o Transtorno do Pânico. Deve-se estabelecer o equilíbrio bioquímico cerebral com medicamentos que não produzam dependência física no paciente. É importante, também, preparar o paciente para enfrentar seus limites sem o stress habitual.
A base do tratamento é com anti-depressivos. Caso haja necessidade, o médico recomenda o auxílio de ansiolíticos, para alívio da ansiedade. A medicação pode ser utilizada para aliviar os sintomas, não altera os factores desencadeadores do problema.
A Síndrome do Pânico é uma das causas mais frequentes de procura a psiquiatras e psicoterapeutas. O especialista auxilia o paciente a desenvolver autocontrole e faz que entre em contacto com seus sentimentos de maneira mais fácil. O objectivo geral do tratamento é solidificar a autoconfiança de quem sofre com o mal. O mais difícil é convencer o paciente que o problema é emocional e que tem tratamento. Isso acontece porque muita gente sente vergonha do problema psicológico, por isso, dificilmente, o admite e até deseja que a doença seja física.
Foi o que aconteceu com o estudante de jornalismo D. C., 25 anos. Há um ano e meio ele teve uma crise que, até então, não sabia do que se tratava. Ao descobrir que estava com Síndrome do Pânico, ficou receoso de contar para os familiares. “Tentei disfarçar. Fiquei com vergonha de contar para minha mãe que estava com a Síndrome do Pânico. Achava que ela e meus amigos não compreenderiam e me achariam louco. Na tentativa de enganá-los, dizia que tinha problemas cardiológicos”. Com a ajuda do tratamento psicoterapêutico (à base de antidepressivo e ansiolítico), o problema do estudante não se agravou. Ele está a fazer terapia há um ano e sente que melhorou o relacionamento com as pessoas. “Encaro a sociedade de frente. Não tenho vergonha do que sinto e acho que estou quase bom. Uma vez por outra é que fico deprimido”.
C u r a
A melhora da doença deve-se ao engajamento do paciente no tratamento. É primordial à pessoa que sofre de Síndrome do Pânico entenda as particularidades e faça uma “aliança” com seu médico. Juntos poderão superar as possíveis dificuldades em busca de um equilíbrio. Zenaide Regueira diz que conhecer a causa é fundamental para o tratamento: “Ao entender a razão do sofrimento, o paciente remonta sua vida e faz com que as sensações deixem de causar ansiedade”.
Embora terapias e medicamentos reduzam a ansiedade e tratem a depressão, compreensão e apoio de familiares e amigos são uma das melhores formas de superar o Transtorno do Pânico. “Infelizmente, é comum que as perturbações psíquicas sejam interpretadas como fraqueza. É preciso que haja uma conscientização da sociedade de que o T.P. não é loucura, e de que todos sofremos com o sentimento do medo, em maiores ou menores proporções. E mesmo quando o medo se torna pânico, é necessário conviver e respeitar as limitações. Assim, aos poucos, a vida volta ao normal”, declara a médica.